13. Tradução e catástrofe

Coordenadora: Luci Rivka Ramos Mendes (UFPR)

Apesar de ser ter sido repetida à exaustão a questão da insuficiência e da falibidade da língua frente a catástrofe histórica a literatura apresenta, talvez de modo tão consistente quanto insistente, respostas à tais eventos. A literatura de testemunho, inclusive, é um gênero cuja preocupação primária é justamente a narrativa desses fatos constantemente considerados inenarráveis. Consiste nas narrativas Mas não é a única maneira de resposta que a literatura nos traz, também com outras formas e gêneros literários - da poesia ao teatro, do conto ao romance – fala-se sobre a tragédia. Ao mesmo tempo muito também se escreve e se pensa sobre a impossibilidade da tradução. É algo já bastante debatido nos estudos da tradução a questão da intraduzibilidade. Uma tradução completa de qualquer texto seria algo impossível de ser atingido, pois algo do original sempre permeia o texto traduzido. Ao mesmo tempo em que esse texto recriado é, ao mesmo tempo, o 'mesmo' e 'outro'. A questão que serve como ponto de partida para as discussões a serem levantadas nesse simpósio é: o que acontece quando essas duas impossibilidades se encontram? São, afinal, duas impossibilidades muito comentadas, estudadas e especuladas mas, ao mesmo tempo, muito ignoradas. Apesar da impossibilidade, escreve-se (e muito) sobre a catástrofe. Apesar da impossibilidade, traduz-se. Como pensar e como fazer essas traduções, não só de forma teoricamente coerente mas também, e quiçá especialmente, como prática ética? Em que medida e como a tradução dessas literaturas auxilia a construção e a manutenção das memórias de catástrofes como a Shoah, os pogroms, as guerras mundiais, as perseguições étnicas, os horrores das ditaduras do oriente e do ocidente? A tradução pode, de algum modo, ser um ponto de apagamento de tais memórias?